sexta-feira, 22 de março de 2013

Aldeia Maracanã


Tomei um taxi hoje de manhã, enquanto se desenrolavam os lamentáveis acontecimentos na Aldeia Maracanã. “O trânsito está ruim para aqueles lados da Radial Oeste, né? Está tendo uma ‘bronquinha’ naquela área...”, provoquei o motorista, para sondar-lhe. “Ali não tem índio, não. Só fica crackeiro usando droga. Se tiver muito, tem uns seis. A maioria que está ali é esse pessoal que se envolve com tudo (ao referir-se aos manifestantes)”. O “pessoal que se envolve com tudo” para o taxista é aquele que outros reacionários ou indiferentes definem como “arruaceiros”, “ingênuos estudantes esquerdistas”, “maconheiros”, e por aí a fora. Como se os presentes ali não fossem SERES HUMANOS sensibilizados com a covardia que foi feita com um pequeno grupo de indígenas que tentavam preservar suas tradições. Enquanto isso, os demais levam suas medíocres vidas importando-se apenas consigo mesmos, ainda que praguejem horrores quando necessitem de algum tipo de auxílio e mãos generosa não lhes socorra. Hoje foi com os índios, vocês ficaram indiferentes. Podiam ter ajudado, mas preferiram cantar como a cigarra leviana. E quando for com vocês e outros não lhes atenderem?
“São um bando de vagabundos! Esse pessoal não faz nada da vida, tem é que trabalhar”, repete, sem dúvidas, um bando de gente hipnotizada pela “lógica do capital”, ao referir-se aos índios, tomando a dinâmica de suas mecânicas vidas de trabalho assalariado, TV, reprodução, repouso, trabalho assalariado como o fundamento real da existência, naturalissimamente. População carioca, parabéns pela sua apatia, pela sua indiferença! Estou com NOJO de vocês!
Muita gente “limpa a barra” dos Policiais que cometem violências enunciando: “Eles apenas cumpriam seus deveres!” Quem enuncia essa fala covarde NUNCA experimentou gás de pimenta nos olhos, NUNCA tomou tiro de borracha, NUNCA tomou coronhada, NUNCA teve um parente assassinado pelas “Forças da Ordem”. Depois que a Alemanha nazista caiu, os antigos guardas de prisioneiros judeus, que participaram da máquina de moer carne que matou em torno de 6 milhões de judeus, também jogaram a carta do “cumprimento dos deveres” em sua defesa. Tzvetan Todorov[1], pensador búlgaro, diz que isso podia diminuir-lhes a responsabilidade legal, no entanto, mostraria a gravidade de sua transformações morais, afinal, um ser que não faz mais que obedecer ordens NÃO É MAIS UMA PESSOA. SERES HUMANOS NÃO RENUNCIAM AO EXERCÍCIO DO JUIZO CRÍTICO E DA VONTADE PESSOAL. A outra possibilidade é que cometam essas violências por MAU CARATISMO. PM do Estado do Rio de Janeiro, parabéns pelo seu MAU CARATISMO INSTITUICIONAL (porque coletivo) OU pela DESUMANIZAÇÃO/IDIOTIZAÇÃO de seus quadros. Parabéns ao Sérgio Cabral também pela “vitória”. Estou com NOJO de vocês. Encerro com o gigante Darcy Ribeiro, em homenagem aos índios aos quais ele tanto se dedicou:
“Fracassei em tudo o que tentei na vida.
Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui.
Tentei salvar os índios, não consegui.
Tentei fazer uma universidade séria e fracassei.
Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei.
Mas os fracassos são minhas vitórias.
Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”. [2]



[1] TODOROV, Tzvetan. Frente ao Límite. Siglo XXI editores. México, 2007, p.192.
[2] RIBEIRO, Darcy. Darcy Ribeiro. Derrotas e vitórias de um cientista brasileiro. Disponível em:  http://joaosilvio.blogspot.com.br/2012/04/darcy-ribeiro-derrotas-e-vitorias-de-um.html Último acesso em 22 de Março de 2013.

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